Poder econômico do Brasil assusta o mundo do futebol

Poder econômico do Brasil assusta o mundo do futebol

Inundado por investimentos, patrocínios e empréstimos de bancos, o futebol brasileiro vive um momento de "boom" financeiro que começa a mudar o mapa do esporte no mundo. Um raio x do futebol nacional mostra que, em vários aspectos, clubes começam a ter receitas parecidas aos dos grandes times europeus. Entre os cartolas de tradicionais equipes da Europa, a constatação é de que está cada vez mais caro tirar um jovem do Brasil. Para especialistas, fica uma questão: até que ponto esta exuberância econômica no Brasil é sustentável ou é apenas mais uma bolha?

Nos últimos oito anos, os clubes brasileiros viram suas receitas aumentar em 300%, atingindo praticamente € 1 bilhão (R$ 2,5 bilhões) no final de 2010. Os dados foram levantados por Marcos Motta, da RBMF, e apresentados nesta semana em Zurique durante reunião fechada da elite da indústria do futebol mundial, evento promovido pela International Football Arena. Só no ano passado, a expansão da receita foi de 34%. O que mais impactou nestas contas foram os direitos de TV, publicidade e patrocínios. Nem mesmo a queda na venda de jogadores ao exterior, uma tendência dos últimos três anos, pesou nas contas. Segundo Motta, nenhum clube brasileiro ainda se aproxima dos times com maior renda do mundo, como o Real Madrid, com € 400 milhões (R$ 1 bilhão), e o Manchester United, € 320 milhões (R$ 800 milhões). Mas o que impressiona é a expansão rápida.

Hoje, quem tem a maior receita no Brasil é o Corinthians, que passou de € 50 milhões (R$ 125 milhões) em 2007 para € 91 milhões (R$ 227 milhões), uma alta de 80%. O segundo é o Inter-RS, com € 86 milhões (R$ 215 milhões), alta de 47%. A terceira maior receita é do São Paulo, € 84 milhões (R$ 210 milhões), expansão de 18% no período). Mas chama a atenção também o crescimento de 64% do Flamengo e de 151% do Santos. Renda de patrocínios aumentou 371% em apenas sete anos, passando de meros € 20,8 milhões (R$ 52 milhões) em 2003 para € 98 milhões (R$ 245 milhões) em 2009.

A explosão do valor dos contratos de tevê também injetou milhões no futebol. Só o Corinthians viu uma expansão de 144% entre 2008 e 2010. O São Paulo aumentou em 83% e o Flamengo, 59%. Entre 2012 e 2015 os clubes vão receber um total de 500 milhões (R$ 1,25 bilhão) por ano.

Força - Com o novo acordo, o Campeonato Brasileiro finalmente se aproxima das maiores ligas do mundo. Na Espanha, os clubes receberão um total de € 520 milhões (R$ 1,3 bilhão) em 2012 pela transmissão da competição, contra € 668 milhões (R$ 1,67 bilhão)na França. A Serie A na Itália é a mais rica, com € 850 milhões (R$ 2,1 bilhão) por temporada.

O Corinthians também terminará 2011 como o clube mais valioso do País - € 377 milhões (R$ 942 milhões), expansão de 68% em dois anos. O Flamengo cresceu 33% e ficou em segundo, com € 300,4 milhões (R$ 750 milhões). O São Paulo vem logo atrás, com € 289 milhões (R$ 722 milhões) e alta de 31%. Mas a maior expansão em seu valor é do Santos, com 84% e hoje estimado em € 99,3 milhões (R$ 247 milhões).

Os números ainda são pequenos em comparação ao valor do Manchester United, de € 1,4 bilhão (R$ 3,5 bilhões), e do Real Madrid, com € 1 bilhão (R$ 2,5 bilhões). Mas a expansão já tem sido suficiente para começar a mudar a lógica das transferências de jogadores. Em 2011, só 23 jogadores da primeira divisão deixaram o País em direção à Europa. Em 2008, foram 65. O Brasil ainda se transformou no país que mais repatriou craques nos últimos dois anos, mais de 120. Dois anos depois, os clubes gastaram US$ 79 milhões (R$ 138,2 milhões) em transferências, um aumento de 63%. Mais uma vez, os valores ainda estão distantes dos europeus. Mas Motta destaca que a crise na UE tem feito os gastos serem reduzidos em 29%.

Dívida -O tendão de Aquiles do futebol brasileiro, porém, são as dívidas que assolam vários clubes, mesmo entre aqueles que tem feito contratações milionárias. Por isso, analistas estrangeiros alertam que o risco é de que uma bolha esteja sendo formada, como ocorreu com vários clubes espanhóis, que por mais de uma década gastaram além do que podiam. Hoje, estão quebrados.

No caso do Brasil, a maior dívida é do Botafogo, com 150 milhões (R$ 375 milhões), 50% são impostos atrasados. O Fluminense deve € 149 milhões (R$ 372 milhões), contra € 131 milhões (R$ 327 milhões) do Atlético-MG. No Flamengo, que tem gastos altos com Ronaldinho Gaúcho, a dívida é de € 126 milhões (R$ 315 milhões), dos quais 80% são impostos não pagos. 

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