Quem lucra com a pirataria?

Quem lucra com a pirataria?

 

Seja em forma de CDs copiados à venda no camelô da esquina ou nos downloads disponíveis no extinto Kazaa, a pirataria de propriedade intelectual já tem estado no nosso cotidiano há algum tempo. E, assim como qualquer outro ato considerado ilícito, sempre esteve na mira das autoridades reguladoras, com ênfase muito maior nos últimos anos. 

Ações como o fechamento do Megaupload ou o levante conhecido como Stop Online Piracy Act, ou S.O.P.A, são provas disso. Mas afinal, será mesmo que a pirataria é um mal tão destrutivo assim? Quem se beneficia e quem é prejudicado por ela?

Dos camelôs aos torrents

A aquisição de conteúdo digital sem o pagamento das permissões de uso imposto pelos autores é praticada por cidadãos de todo o mundo, mas, assim como o Tecmundo já havia comentado em um artigo antes, o Brasil é um dos campeões quando o assunto é pirataria.

Os motivos para a tendência mais elevada aqui são muitos. Primeiramente, tem a disparidade entre o poder aquisitivo dos brasileiros em relação ao da população dos países desenvolvidos. Complicando mais ainda, filmes, jogos, músicas e até livros costumam ser muitos mais caros aqui por causa dos altos impostos cobrados e da presença fraca da indústria local.

Pode-se dizer que ser legal no Brasil custa caro, motivo esse que faz dos CDs copiados disponíveis por menos de dez reais nas lojas ilícitas uma verdadeira tentação. Com o aumento da disponibilidade de acesso rápido, fazer o download diretamente dos sites ou via transferências Peer-to-Peer acabou se tornando a opção número um.

Por isso, não é errado afirmar que os “pirateadores” que distribuem os discos copiados ou os sites que recebem quantias pela publicidade gerada pelos acessos ganham um bom dinheiro com a pirataria, especialmente no Brasil. Porém, ao contrário do que se pensa, os “benefícios” da pirataria não são revertidos apenas aos copiadores ou aos consumidores que pagam menos.

Autores também lucram

Neil Young, um dos maiores músicos dos Estados Unidos, acredita em algo bem controverso. Segundo ele, “a pirataria é a nova rádio”, já que no início da radiodifusão também se acreditava que as canções sendo disponibilizadas gratuitamente através das ondas de rádio iriam afundar a indústria musical.

Longe disso, as rádios hoje atuam como um intermédio fundamental na divulgação de novos artistas, permitindo que suas músicas cheguem a ouvintes que dificilmente comprariam um disco antes de ter conhecido a canção quando ela foi ao ar.

Aos poucos, o movimento da pirataria tem mostrado ser um agente parecido: uma pesquisa realizada pelo The Telegraph mostrou que a cantora Adele foi a artista que mais teve músicas distribuídas ilegalmente pela internet na Europa em 2011. Por outro lado, ela também foi a cantora que mais vendeu CDs (originais!) na mesma região e no mesmo período.

Claro, existem muitos artistas que veem a pirataria apenas como um “ralo” por onde o dinheiro que poderiam estar ganhando acaba sendo jogado fora, e com razão. Mesmo assim, exemplos como o da Adele mostram que, de certa forma, a propagação fácil pela internet traz lucros para os músicos.

Um dos escritores que mais vendem livros no Brasil e no mundo, Paulo Coelho, não só vê a pirataria um bom meio de divulgação como também a apoia abertamente. Em seu blog oficial, o novelista afirma que um dos principais motivos pelo sucesso de vendas de “O Alquimista” se deve ao fato de os leitores terem tido o primeiro contato com o livro em sua versão digital distribuída sem controle pela internet, e que mesmo assim escolheram comprar o produto impresso posteriormente.

O pirata sempre sai mais em conta?

Segundo Gabe Newell, fundador da Valve e CEO de um dos maiores serviços de distribuição de jogos digitais — o Steam —, o motivo pelo qual a pirataria continua lucrando não são apenas os preços menores, mas também as vantagens e facilidades trazidas pelos produtos ilícitos.

A declaração feita pelo magnata tem fundamentos, afinal, quanto mais o cerco contra a pirataria se agrava, mais aqueles que adquiriram o produto original são penalizados com o aumento da burocracia e a diminuição das facilidades ao aproveitar o produto.

Maior prova disso é um dos lançamentos mais aguardados nos últimos tempos: Diablo III. Para jogar o mais novo título da Blizzard, é necessário que você tenha uma conexão constante com a internet, mesmo para jogar sozinho na campanha solo. Se os servidores da empresa não estiverem online, o game nem carrega.

Há relatos até de jogadores que adquiriram a versão oficial de Diablo III e, mesmo assim, acabaram recorrendo a métodos ilícitos para escapar dessa burocracia. Para Gabe, a melhor maneira de acabar com o problema não é investir em tecnologias que dificultam a experiência para ambos os lados, mas sim dar às pessoas um serviço adequado, com vantagens que compensem a compra de um produto original.

Declarações como as citadas acima mostram que mesmo aqueles que mais deveriam estar reclamando veem a pirataria não como um mal que dever ser extinto, mas sim uma revolução que pode trazer tantos benefícios quanto malefícios. É sempre lamentável que alguém tenha lucros sobre uma obra sem repassá-los àqueles que mais trabalharam em cima dela. Por isso, a imensidão da internet e a dificuldade de controlá-la faz da conscientização do público um fator muito importante. 

 

Tecmundo

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