As Nações Unidas lançaram nessa sexta-feira (19) um documento de políticas públicas que aponta uma perda de 60% dos rendimentos por parte dos trabalhadores e trabalhadoras informais – aqueles que, em geral, não possuem direitos trabalhistas ou proteção social. O dado se refere apenas ao primeiro mês da crise econômica decorrente da pandemia de COVID-19.
O relatório também aponta que centenas de milhões de empregos foram perdidos, destacando medidas a serem adotadas para mitigar os efeitos da crise.
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“A pandemia virou ao avesso o mundo do trabalho. Todos os trabalhadores, todos os negócios e todos os cantos do mundo foram afetados”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em uma mensagem em vídeo para o lançamento do documento.
As mulheres foram especialmente atingidas por atuarem em muitos dos setores mais afetados, ao mesmo tempo em que carregam um fardo maior com o aumento do trabalho não remunerado.
Segundo a ONU, jovens, pessoas com deficiência e outros grupos mais vulneráveis enfrentam enormes dificuldades. Muitas pequenas e médias empresas – o motor da economia mundial – podem não sobreviver.
“Esta crise no mundo do trabalho está alimentando chamas já ardentes de descontentamento e ansiedade. O desemprego em grande escala e a perda de rendimento resultante da COVID-19 estão corroendo ainda mais a coesão social e desestabilizando países e regiões – social, política e economicamente”, acrescentou o secretário-geral.
Ele destacou que, de fato, muitas empresas e trabalhadores conseguiram se adaptar de forma inovadora às novas circunstâncias. “Por exemplo, de um dia para o outro, milhões passaram a trabalhar remotamente, em muitos casos com um sucesso surpreendente.”
No entanto, Guterres ressaltou que os mais vulneráveis correm o risco de se tornar cada vez mais vulneráveis, enquanto países e comunidades pobres podem ficar ainda mais esquecidos.
Para superar a crise e sair dela melhor, o documento propõe três frentes.
A primeira pede o apoio imediato a trabalhadores, empresas, empregos e rendimentos em risco para evitar falências, perdas de empregos e de rendimento.
A segunda pede maior foco na saúde e na atividade econômica após o alívio das restrições, com locais de trabalho seguros e direitos para as mulheres e as populações em risco.
Terceira: a ONU pede uma mobilização desde já para uma recuperação inclusiva, verde, sustentável e centrada no ser humano, que aproveite o potencial das novas tecnologias para criar empregos decentes para todos – e se baseie nas maneiras criativas e positivas como as empresas e os trabalhadores se adaptaram a estes tempos.
“Fala-se muito sobre a necessidade de uma ‘nova normalidade’ após esta crise. Mas não devemos esquecer que o mundo pré-COVID-19 estava longe de ser normal”, disse António Guterres, citando as desigualdades crescentes, a discriminação sistêmica de gênero, a falta de oportunidades para jovens, salários estagnados e a mudança climática descontrolada. “Nada disso era ‘normal’”, acrescentou.
Segundo a ONU, a pandemia expôs importantes deficiências, fragilidades e falhas. “O mundo do trabalho não pode e não deve ser o mesmo após esta crise. É hora de um esforço coordenado global, regional e nacional para criar trabalho decente para todos como base de uma recuperação verde, inclusiva e resiliente. Por exemplo, uma mudança da tributação dos salários para o carbono poderia ajudar a percorrer este caminho”, disse o secretário-geral.
“Com ações inteligentes e oportunas a todos os níveis, e a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável como o nosso guia, podemos sair desta crise mais fortes, com melhores empregos e um futuro mais brilhante, mais igualitário e mais verde para todos.”
Fonte: ONU Brasil.