A pandemia do novo coronavírus levou a uma demanda global por medicamentos e equipamentos hospitalares. Com isso, aumentaram também casos de tráfico de produtos e falsificação de remédios. A informação consta de um relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, Unodc.
No estudo, divulgado nesta quarta-feira, em Viena, a agência chama a atenção para os riscos de saúde pública e outras consequências.
Oportunidade
Em nota, a diretora-executiva do Unodc, Ghada Waly, disse que “a saúde e a vida das pessoas estão em risco por causa da ação de criminosos que exploram a crise para obter lucro.” Segundo ela, essas pessoas estão usando a ansiedade gerada pela crise e a demanda criada por mais equipamentos de proteção e medicamentos.
Waly contou que grupos transnacionais de crime organizado se aproveitam das lacunas na regulamentação e supervisão. O Unodc diz que é preciso “ajudar os países a melhorar a cooperação, fechar brechas, fortalecer a capacidade da justiça criminal e aumentar a consciência do público.”
Riscos
O relatório também destaca problemas nas estruturas regulatórias.
Com a chegada do vírus, os criminosos adaptaram-se rapidamente para explorar vulnerabilidades nos sistemas de saúde e justiça criminal. Segundo o Unodc, fraudes, golpes e apreensões, envolvendo a fabricação e o tráfico desses produtos, continuarão se nada for feito.
Com a pandemia também aumentaram os casos de fraude para roubar dados de pessoas, incluindo manipulação de sites corporativos, para convencer os compradores de que a fonte é real.
A agência citou um golpe contra autoridades de saúde da Alemanha, que compraram um lote de máscaras cirúrgicas por 15 milhões de euros de um site falsificado e que se apresentava como empresas da Alemanha e da Suíça. Na realidade, a página era uma imitação criminosa de uma empresa verdadeira, com sede na Espanha.
Termômetros falsos e vírus por internet
Um golpe similar ocorreu na Tailândia, onde autoridades apreenderam 3,3 mil termômetros traficados através de outros três países. A Itália também teve que suspender a entrega de termômetros que não atendiam às exigências de segurança da União Europeia.
Com a pandemia, subiram ainda casos de ataques cibernéticos com vírus e malware, que são enviados em links para roubar a informação dos usuários atacados, e invadir computadores, celulares e dispositivos da vítima.
No Reino Unido, o Centro de Segurança Cibernética informou ter removido mais de 2 mil golpes na internet que envolviam a Covid-19 e venda fraudulenta, somente no mês de março. Ao todo, foram descobertas 471 lojas falsas.
A França conseguiu detectar 70 páginas fraudulentas de venda de cloroquina em abril.
Já nos Estados Unidos, os golpes usando a Covid-19 pela internet custaram cerca de US$ 13,4 milhões de janeiro a meados de abril e afetaram mais de 18 mil consumidores.
Rússia e Bálcãs
Nos Emirados Árabes Unidos, ocorreram 1.541 ataques cibernéticos relacionados à pandemia com 775 ameaças utilizando malware, 621 ataques por e-mail e 145 com endereços de páginas falsificados.
A polícia afirma que muitos grupos de crime organizado no oeste dos Bálcãs praticam crimes pela internet como lavagem de dinheiro, produção de remédios falsificados e de equipamentos hospitalares de proteção.
O relatório do Unodc também notificou casos de respiradores falsificados na Rússia, que iniciou um inquérito sobre o tema. O mesmo ocorreu no Reino Unido, onde alguns equipamentos estão abaixo do padrão de qualidade e representam perigo. Um caso similar foi registrado na Bósnia-Herzegovina.
Vacina
O Unodc acredita que os grupos criminosos mudarão seu comportamento ao longo da pandemia. Quando uma vacina for desenvolvida, eles deverão avançar com os golpes para tentar vender equipamentos de proteção e para traficar lotes de imunização. A agência estima ainda um aumento de novos ataques cibernéticos.
A pesquisa recomenda reforçar regulações e fortalecer a punição de infratores. Para o Unodc, a saída está num enfrentamento global que criminalize a fabricação e tráfico desses produtos em todos os países.
Ao mesmo tempo, os Estados-membros devem continuar apostando na prevenção, detecção e respostas a esses crimes fortalecendo o trabalho de investigadores e de autoridades no setor.
OMS e Estados Unidos
Numa nota separada sobre a crise global gerada pela Covid-19, o secretário-geral das Nações Unidas confirmou o recebimento da notificação oficial dos Estados Unidos de se retirarem da Organização Mundial da Saúde, OMS, como país-membro.
A comunicação foi enviada pelo governo do presidente Donald Trump.
O país é membro da OMS desde 1948. Em nota, o porta-voz de António Guterres explicou os passos que devem ser dados, com base nas regras acordadas pela OMS e pelos Estados Unidos, e que incluem o aviso prévio com prazo de 12 meses para saída da organização e a quitação de suas obrigações financeiras para com a agência.
Fonte: ONU News.