Até janeiro de 2020, todas as salas de cinema do Brasil terão de ser acessíveis para pessoas com deficiência auditiva e visual, conforme Instrução Normativa da Agência Nacional do Cinema (Ancine). De acordo com a agência reguladora, as metas serão aferidas conforme o número de salas dos exibidores, independente da cidade ou região do país. Até o final de setembro, 35% das salas de cinema dos grandes complexos (com mais de 20 salas de exibição) e 30% das salas dos grupos menores (até 20 salas) deverão ter equipamentos que garantam a acessibilidade de pessoas com essas características.
Há mais de um tipo de tecnologia no mercado para equipar as salas de cinema para acessibilidade. No caso dos surdos, a maior dificuldade está nos filmes brasileiros sem legenda, descrição de sons ou janelas no canto da tela com intérpretes que façam a tradução simultânea para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Já para os deficientes visuais, é necessário o uso de aparelhos sonoros que recebam sinais via FM ou Wi-fi com audiodescrições, narrações que descrevam paisagens, cenários e situações do filme, além de expressões e até o estado emocional das personagens que compõem a cena.
Linguagem para formar 'imagens mentais'
De acordo com a audiodescritora Kley Kopavnick, o propósito das narrações é formar “imagens mentais” para aqueles que não possam enxergar acompanhem os filmes no cinema ou na TV. A audiodescrição segue um roteiro diferenciado que é elaborado previamente; ao ser escutado, ele permite que as pessoas interpretem tramas e compreendam melhor as informações. No caso dos filmes, o roteiro estabelece as deixas que o narrador grava para os cegos entre os diálogos que ocorrem durante os filmes.
Segundo o Guia para Produções Audiovisuais Acessíveis, elaborado pela Universidade de Brasília (UnB), a audiodescrição deve ter linguagem objetiva, simples, sucinta, porém vívida e imaginativa, ou seja, priorizando o uso de léxico variado e se adequando à poética e à estética do produto audiovisual.
A audiodescrição de um filme é um trabalho que se faz em dupla. Há o roteirista, que assiste o filme e prepara o texto para a narração, e o consultor, que é uma pessoa cega, que escuta o roteiro, analisa o que foi descrito e orienta ajustes. “A audiodescrição tem que transmitir a emoção da cena”, resume o publicitário Paulo Lafaiete de Lima, consultor em audiodescrição.
Este trabalho é feito na pós-produção dos filmes pelos próprios realizadores ou pelas empresas de distribuição. O produto especial chega aos cinemas junto com os arquivos originais das películas, seja via digital ou por mídia física (Digital Cinema Package – DGP), e é veiculado por meio de canais disponíveis em cada sala de exibição.
Canaltech; Agência Brasil.