Contra Covid-19, Fiocruz lança o jogo digital Fiocraft

Contra Covid-19, Fiocruz lança o jogo digital Fiocraft
Foto: reprodução/Fiocruz.

A Fiocruz está lançando nesta quarta-feira, dia 1º de julho, a versão preliminar (beta) do Projeto Fiocraft, uma versão virtual da instituição dentro de um dos jogos digitais mais populares do mundo, o Minecraft. Em 2018 o projeto foi contemplado no edital Ideias Inovadoras, promovido pelo Programa Inova Fiocruz, tendo os pesquisadores Marcelo de Vasconcellos (Icict) e Fábio Gouveia (COC) como coordenadores. Na equipe também estão Fernando Alves (egresso do PPGDC/COC), Flávia Carvalho (Icict), Cynthia Dias (ESPJV), Diego Bevilaqua (COC) e Gustavo Audi (Canal Saúde). O lançamento da versão completa está previsto para dezembro de 2020, mas com a pandemia de Covid-19, os coordenadores do Fiocraft decidiram disponibilizar uma versão beta.

“Já tínhamos parte da construção bem avançada, e quando surgiu a pandemia tivemos a ideia de oferecer essa versão beta, que inclui apenas o Castelo Mourisco, mas possui uma série de informações sobre a Covid-19, o que é o vírus, medidas de prevenção etc. Usamos inclusive conteúdo da campanha ‘Se liga no Corona!’, da Fiocruz, buscando contribuir com os esforços para educar o público sobre a pandemia e os riscos à saúde. É também um teste para recolher sugestões ou reclamações dos jogadores”, explica Marcelo de Vasconcellos.

Para melhorar a interação entre os jogadores e permitir um controle maior do jogo, o Fiocraft tem um servidor próprio. Embora os jogadores já tenham que possuir o jogo Minecraft para entrar, o acesso ao servidor do Fiocraft é gratuito. “Podemos colocar até 100 pessoas ao mesmo tempo interagindo. Nossa preocupação inicial era trabalhar com a lógica de divulgação científica, produzir exposições específicas para o Fiocraft, além da parte com as informações históricas do campus. O Minecraft tem sido usado de forma muito bem sucedida em várias iniciativas educacionais pelo mundo”, afirma.

Aprender brincando

O Fiocraft está sendo lançado na versão Minecraft Java Edition, a versão mais popular do Minecraft. Em 2016, foi criada sua versão educacional, o Minecraft Education Edition. Segundo Vasconcellos, apesar de muito parecidos, de maneira geral os dois programas não se sobrepõem em termos de base de usuários. “O Minecraft é para entretenimento, se a gente trabalhasse apenas no Minecraft Education perderíamos esse público. E para nós é importante que a pessoa que está jogando, que não vai procurar informações sobre a pandemia ou a história da saúde no Brasil, se depare com essa possibilidade, quase que por ‘acidente’. Ela quer brincar naquele espaço e como efeito secundário acaba aprendendo”, pontua. Entretanto, o uso do Minecraft Education Edition está nos planos para uma continuidade do projeto no futuro, que poderá se beneficiar de seus recursos educacionais.

O pesquisador argumenta que o projeto reforça o uso do aprendizado tangencial. “A pessoa está com o objetivo de se divertir, mas por tabela também está aprendendo algumas coisas no processo. Acreditamos que esse é um espaço muito potente para trabalhar com a questão da saúde, sem entrar na lógica tediosa de alguns jogos educativos que basicamente são ‘livros com botões’. A ideia é oferecer uma experiência divertida, interessante, e que a pessoa consiga levar para o mundo real alguma coisa que ela tenha aprendido no jogo”, completa.

Um dos principais fundamentos da divulgação científica, lembra ele, é justamente empoderar a população para que ela entenda mais sobre o assunto. O Fiocraft estaria “nesse espaço entre a comunicação, a divulgação científica e o aspecto histórico”, servindo como uma forma de lidar com o atual contexto, e mesmo após a pandemia permitindo às pessoas que por alguma dificuldade de mobilidade não possam estar presencialmente no campus da Fiocruz experimentar um pouco do que a instituição tem para oferecer em termos de conhecimento, divulgação, saúde e cultura. “É uma forma de tratar de certos assuntos, saindo da bipolaridade entre o jogo de diversão que preocupa os pais, porque a criança joga muito e não aprende, ou o jogo educativo que é maçante, que as pessoas só jogam quando são obrigadas”, pondera.

Inovação e pesquisa

O Fiocraft começou a ser gestado em 2018, quando o então aluno do mestrado em Divulgação Científica da Fiocruz Fernando Alves procurou Marcelo de Vasconcellos, que na época era seu professor no curso de mestrado, e propôs a ideia de se criar o campus da Fiocruz em Minecraft. “Achei a ideia excelente, e para nossa surpresa a receptividade foi muito boa. Houve muita pesquisa por parte do Fernando, que é historiador e agora mestre em Divulgação Científica, e acabou se tornando nosso bolsista no projeto. Isso mostra que do próprio mestrado estão surgindo ideias inovadoras. Embora eu e o professor Fábio Gouveia tenhamos desenvolvido o Fiocraft em um formato próprio de projeto, a ideia original foi de um dos nossos alunos, um produto inovador e intrinsicamente entrelaçado com a pesquisa da Fiocruz”, atesta.

Até o final deste ano, será disponibilizada a versão final com todo o campus de Manguinhos, encerrando a contrapartida prevista no edital. Mas se depender da equipe de pesquisa, o Fiocraft terá vida longa. Há possibilidade, por exemplo, de parcerias com professores do ensino fundamental, criando atividades específicas para crianças.
O projeto também já está em contato com professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para a colaboração de estudantes no projeto visando a troca de experiências no uso do Minecraft para fins de comunicação e aprendizado.

“Há poucos anos, a OMS incluiu o vício em games como uma doença na CID e foi criticada por muitos estudiosos de jogos, porque eles entendem que não há embasamento científico para justificar essa classificação. Ironicamente, com a pandemia, a OMS já lançou mais de uma nota incentivando as pessoas a jogarem online, porque é uma forma de manter a sanidade durante o isolamento”, analisa. Apesar do visual Minecraft ser baseado em blocos, um estilo “até meio infantil e antigo”, Vasconcellos ressalta que existem pesquisas mostrando que não é a fidelidade visual que cria a imersão. “Mesmo com esse formato, você consegue dar ao jogador a sensação de que ele está próximo, em um ambiente com outras pessoas conversando. E isso é muito valioso no contexto que estamos está vivendo”, avalia.

Originalmente um jogo independente, o Minecraft foi comprado pela Microsoft em 2014, e desde então se tornou um fenômeno de vendas. Dados do site The Verge, especializado em tecnologia, indicaram o game ultrapassou a marca de 200 milhões de cópias vendidas em maio deste ano – é o segundo mais vendido da história. Houve um aumento de 25% de jogadores com o isolamento social, com média de 126 milhões de jogadores ativos por mês. Ainda segundo informações do site, em 2019, o jogo foi o conteúdo mais buscado e visto no YouTube, com mais de 100 bilhões de views. No Brasil, o Minecraft também foi o conteúdo preferido pela maioria no YouTube (que ano passado ultrapassou o Facebook e tornou-se a rede social mais usada no país, com presença de 95% dos internautas, segundo o Global Digital Report).

Assista abaixo o vídeo de apresentação do Projeto Fiocraft no YouTube:

Veja o passo-a-passo para entrar no servidor:

1 - Abra o Minecraft Java Edition para PC e clique em JOGAR
2 - Escolha MULTIJOGADOR 
3 - Escolha a opção ADICIONAR SERVIDOR 
4 - Em ENDEREÇO DO SERVIDOR, preencha fiocraft.landhosting.net
5 - É só clicar em CONCLUÍDO e depois em ENTRAR NO SERVIDOR para iniciar o jogo.
6 - Clicar em Entrar no Servidor para dar início.
 

Para saber mais

Marcelo de Vasconcellos é líder do Grupo de Pesquisa Jogos e Saúde. O Icict possui um polo de Jogos e Saúde no Serviço de Multimeios, que já lançou jogos com temas relevantes para a saúde, como Caminhos de Oswaldo e Imune, Quem Deixou isso aqui?! e Jogo do Acesso Aberto.

Fonte: Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

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