Fiocruz busca vacina contra Covid-19

Fiocruz busca vacina contra Covid-19
Foto: Opas Barbados/Brenda Lashley (via ONU News).

A Fiocruz promoveu nesta segunda-feira (25), dia em que completou 120 anos, o debate virtual Em defesa da vida, que contou com a participação do ministro interino da Saúde e de representantes de instituições do setor e da sociedade civil (assista abaixo). O evento, realizado de forma online devido à pandemia do novo coronavírus, foi acompanhado por mais de 2,4 mil pessoas. A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, fez a primeira intervenção e deu as boas-vindas, logo depois de um vídeo mostrar como será a atuação do Centro Hospitalar para a Pandemia Covid-19, integrado ao Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), e que foi construído no campus de Manguinhos (RJ). Nísia pediu um minuto de silêncio pelas pessoas que morreram de Covid-19 – no Brasil, até a manhã desta segunda-feira, eram mais de 22 mil óbitos. A presidente, que também fez uma saudação e apresentou sua solidariedade aos profissionais de saúde, afirmou que a Fiocruz está dedicada a desenvolver e produzir uma vacina contra a doença, assunto que seria tema de uma reunião também nesta segunda-feira.

O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, interveio em seguida e se disse orgulhoso de participar do evento. Ele comentou que a estrutura da Fiocruz está inteiramente voltada para a pesquisa científica e que a instituição vem trabalhando arduamente nas ações de enfrentamento da pandemia. “Não é fácil fazer tudo o que a Fiocruz está fazendo, como montar um hospital como o que foi erguido rapidamente, ou levar à frente um projeto como o de Santa Cruz”. No local, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, está sendo construído o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde, que permitirá aumentar a capacidade de produzir 20 milhões de frascos de vacinas e biofármacos por ano para 120 milhões. Pazuello adiantou que ainda nesta segunda-feira teria uma reunião sobre o projeto, para retirar gargalos que ainda existem. Ele se mostrou preocupado com os impactos da interiorização da pandemia. “Os municípios do interior não dispõem dos mesmos recursos que as capitais e regiões metropolitanas”.

Após o ministro, a presidente Nísia observou que o aniversário deste ano da Fiocruz e de sua célula-mater, o Instituto Oswaldo Cruz, precisou ser lembrado de maneira diferente, mas que recorda a criação da instituição, em 1900, na epidemia de peste bubônica. Assim como no passado, a instituição continua, no dia de hoje, a estar na linha de frente do enfrentamento das crises sanitárias nacionais. Ela também fez uma homenagem a todos os ex-presidentes da Fiocruz e citou a presença nacional e internacional da Fiocruz, que conta com unidades em 10 estados de todas as regiões e mantém mais de 50 parcerias com instituições de pesquisa de outros países. “Somos um ator importante na cooperação global em saúde, inclusive em questões relacionadas à Covid-19”.

Nísia abordou também os problemas advindo das grandes e graves diferenças regionais num país continental e injusto como o Brasil. “Precisamos de uma base científica e tecnológica forte, que nos permita vencer as desigualdades. E fortalecer o SUS em um pacto em defesa da vida. Temos que integrar dados, reforçar a testagem, investir em pesquisa, agregar o conhecimento que vem das ciências biomédicas e também das sociais, capacitar recursos humanos e formar profissionais para as novas realidades e mobilizar a ciência para que consigamos superar esse imenso desafio que está posto para todo o planeta”.

Para Nísia, entre os desafios para a Fiocruz, que olha para os próximos anos, estão a preservação e avanço do SUS frente aos desafios atuais e do futuro; o fortalecimento da ciência, tecnologia e inovação a serviço da sociedade brasileira; o fortalecimento do Sistema Fiocruz de CT&I; a preservação e ampliação das estratégias para redução da vulnerabilidade no Complexo Econômico-Industrial da Saúde; a preparação da instituição para enfrentar as mudanças no quadro demográfico e epidemiológico; o enfrentamento dos desafios  da 4ª Revolução Tecnológica; e a consolidação da perspectiva integrada entre Saúde, ambiente e desenvolvimento sustentável no contexto da Agenda 2030. Ela também listou algumas das principais ações da Fundação no enfrentamento da pandemia, como, além da construção do Complexo Hospitalar, a coordenação do estudo clínico mundial Solidariedade, a ampliação da testagem molecular (RT-PCR) para Covid-19, a implantação de unidades de apoio ao diagnóstico molecular, o apoio às populações vulnerabilizadas, a criação de ferramentas de integração e análise de dados. “Todas essas ações nos levarão ao fortalecimento do sistema de inovação da Fiocruz envolvendo pesquisa e desenvolvimento tecnológico, educação, informação, produção, vigilância e assistência à saúde”.

Ela concluiu dizendo que, se no momento não é possível fazer festa, em função da crise mundial, “que façamos um pacto pela vida, pela justiça e pela equidade. Deixo uma mensagem de esperança, ou melhor, de esperançar, que é agir com esperança. É disso que necessitamos”.

A representante da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) no Brasil, a médica Socorro Gross, disse em seguida que a pandemia põe à prova todas as estruturas dos sistemas nacionais de saúde e leva a uma reflexão sobre a solidariedade. “A Fiocruz tem dado grande contribuição ao mundo com seus êxitos e conquistas científicas, em sua atuação em defesa da vida. Hoje não podemos celebrar, pois há dor em todo o mundo, mas comemoramos as contribuições da Fiocruz, uma instituição tão importante e sempre a serviço do coletivo”.

O secretário de Políticas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Comunicação (MCTIC), Marcelo Morales, deu parabéns à Fiocruz e listou alguns dos feitos históricos de pesquisadores da Fundação, como nas áreas de esquistossomose, estudos de helmintos, Aids e doença de Chagas. “A Fiocruz é um pilar no enfrentamento da Covid-19, em testes diagnósticos, ensaios clínicos e em inovação de forma geral. A Fundação, sempre que chamada, dá as respostas que o país necessita, como vimos em relação à zika, à dengue, ao derramamento de óleo no Nordeste e em tantos outros casos, antigos e recentes”. Morales também citou investimentos do MCTIC em testes rápidos e outros projetos do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz).

O secretário-executivo do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Mauro Junqueira, afirmou que a ousadia da Fiocruz, revelada em tantas iniciativas pioneiras, se revela mais uma vez agora, já que a Fundação vai manter como definitivo o novo hospital construído para a pandemia. “Não é um hospital de campanha, como todos os demais que estão sendo erguidos. Será para sempre”.

A coordenadora da Rede CCAP – Rede de Empreendimentos Sociais para o Desenvolvimento Socialmente Justo, Democrático, Integrado e Sustentável, Elizabeth Campos, disse que o momento atual é ímpar e deixa claro que o Brasil continua a apresentar gritantes desigualdades. “Neste momento, a solidariedade precisa ser mais contagiosa que o vírus. Estamos na mesma tempestade, mas em barcos diferentes. E os vulneráveis, claro, sofrem mais. Mais do que nunca é necessário que se faça união por políticas públicas voltadas para os mais pobres, como quilombolas, indígenas e favelados. Elizabeth afirmou que “CEP não pode determinar sobrevivência, porque todas as vidas importam”.

A cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde, a pediatra indiana Soumya Swaminathan, iniciou sua intervenção lembrando o sofrimento que a pandemia vem causando nas sociedades de todo o planeta “Meus sentimentos aos brasileiros, que estão apresentando uma alta carga da doença, com grandes impactos nas comunidades pobres”. Para a cientista, “as diferenças ficam mais uma vez patentes, entre os países que contam com bons sistemas de saúde, e aqueles que não dispõem disso. Mas creio que o Brasil é um ator importante nas respostas que precisamos para sair da crise, pela capacidade do país e pela liderança da Fiocruz”. Soumya disse que, até que seja encontrada uma vacina para o novo coronavírus, é necessário seguir as recomendações de isolamento social da OMS, que segundo ela está inteiramente dedicada a dar respostas ao problema. “Estou otimista com a cooperação global, com compartilhamento de dados e recursos, que vai nos levar a encontrar soluções”. Ela ainda se disse preocupada com a epidemia de fake news e toda a desinformação trazida por essa onda.

O reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), João Carlos Salles, lembrou da extensa parceria entre a instituição que dirige e a Fiocruz, que recentemente voltou a se mostrar produtiva na criação da Rede Covida e do Telecoronavírus. Ele disse que celebrar a Fiocruz é celebrar o Brasil. “Mas eu lamento que, no momento atual, instituições públicas como o SUS e as universidades federais estejam sob ataque. Infelizmente o obscurantismo mostra a sua cara e as suas garras afiadas. Ataques à democracia são inconcebíveis. E não existe democracia sem civilidade”.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, fez um balanço das ações do setor diante da pandemia. Segundo eles, a Firjan tem articulado, com as indústrias fluminenses, a produção de respiradores e equipamentos de proteção individual, por meio de parcerias com a UFRJ. Também estão sendo produzidas cartilhas informativas sobre a Covid-19 para os trabalhadores.

A estudante Vitória Oliveira, de 16 anos, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), interveio em seguida. Ela coordena o grêmio Girl Up Nise da Silveira e, por sua defesa intransigente do sistema público de saúde, é conhecida entre os colegas como “Vitória do SUS”. Dizendo-se emocionada e nervosa, ela discorreu sobre a importância da educação pública de qualidade. E sobre o SUS. “O sistema é revolucionário, universal, humanizador e fundamental. Não podemos ficar sem ele”.

A reitora da UFRJ, Denise Pires, disse que “Oswaldo Cruz e Carlos Chagas estariam orgulhosos da instituição em que a Fiocruz se tornou. Espalhada pelo país, produzindo ciência, divulgando conhecimento, promovendo inovação em saúde e fortalecendo o SUS”. A reitora afirmou que “o vírus é devastador, mas se comporta como vírus. Nós é que precisamos nos comportar mais como Homo sapiens sapiens, ou seja, dar espaço à razão e à ciência. Olhar para o Renascimento e para o Iluminismo e tirar lições, o que não temos feito”. Denise recordou que a Faculdade de Medicina da UFRJ deve bastante à Fiocruz em suas origens. “Costumamos dizer que a Fiocruz foi para a Praia Vermelha, onde ficava a antiga sede da faculdade, e depois para a Ilha do Fundão, para onde se transferiu. A Fiocruz é também nossa maior parceira”. E arrematou: “a Fiocruz vai produzir a vacina contra o novo coronavírus. E juntos vamos debelar a pandemia”.

A presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, destacou que “a Fiocruz é um baluarte da nação brasileira. Foram as epidemias do passado que levaram à criação da instituição, que soube dar as respostas necessárias. Portanto, não consigo entender o porquê de tantos odiarem a ciência. Eu espero que, com tantas reportagens sobre ciência entrando nas casas dos brasileiros, as pessoas se deem conta da importância da ciência para o desenvolvimento do país”.

Ao retomar a palavra e encerrar o evento, a presidente Nísia Trindade Lima afirmou que o país evoluiu bastante e é muito diferente daquele de 1900, mas que continuam a coexistir profundas diferenças. “O Brasil do século 19 permanece convivendo com o do século 20 e o do século 21”. Para Nísia, essa situação vai mudar a partir do momento em que houver um robusto projeto de país que “integre saúde pública, ciência e tecnologia em favor da vida, aliando a força da tradição e a ousadia da inovação”. 

Ela elogiou a construção democrática da Fiocruz e homenageou a todos os trabalhadores na figura de Joaquim Venâncio, que dá nome à Escola Politécnica da Fundação. A presidente acrescentou que “a Fiocruz é um patrimônio do mundo. E todos os dias eu peço para estar à altura desse desafio”.

Durante o dia, instituições, políticos e artistas homenagearam a Fiocruz. O Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Bireme/Opas/OMS) informou em nota que “reconhece a sua relação histórica de cooperação técnica de longa data com a Fundação, que originou inúmeros eventos, projetos e produtos em gestão da informação e conhecimento, com vários dos seus institutos”. A nota lista ainda diversas das ações de maior destaque da Fiocruz em todas as áreas da saúde, em especial em relação à Covid-19. A ex-diretora da Escola de Saúde Pública da Universidade da Costa Rica, Alcira Castillo, disse que “é um orgulho para a América Latina e o mundo poder contar com essa grandeza científica”. O ex-diretor do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Renato Cordeiro, destacou “o brilhante trabalho na defesa da população e do SUS na atual pandemia de Covid-19. Esperamos que na comemoração dos 121 anos a ciência tenha descoberto uma vacina que possa proteger a Humanidade e impedir o dramático processo de perda de vidas humanas”.

Fonte: Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

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