A nova edição (parte 1 e parte 2) do Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, divulgada nesta sexta-feira (25/6), tem como marco as mais de 500 mil mortes ocorridas por Covid-19 no país. O estudo coloca em pauta as principais questões que levaram o Brasil a se transformar em um dos epicentros da pandemia no mundo. Mais do que isso, mostra, por meio de dados científicos, um retrato atualizado sobre a doença no país e aponta os caminhos para reverter esse quadro.
“Se no mundo temos uma taxa de 497 óbitos por milhão de habitantes, no Brasil essa taxa atinge 2.364 óbitos por milhão de habitantes, o que significa que é 4,7 vezes maior que a global. O resultado brasileiro foi o pior dentro do grupo de países grandes em termos populacionais", ressaltam os pesquisadores do Observatório, responsáveis pelo Boletim.
No documento, os cientistas afirmam que muitas das vidas perdidas poderiam ter sido salvas com medidas de saúde pública baseadas em evidências científicas, coordenação de ações entre as diferentes esferas de governo (em prol de uma resposta efetiva à pandemia e mitigação de danos), além de mensagens claras e consistentes para a população e do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
“O sucesso no enfrentamento da pandemia necessariamente envolve a combinação de medidas. Trata-se de um conjunto que produz impacto na redução da transmissão de casos e óbitos. Essas medidas devem ser combinadas, o que vale tanto para a combinação das medidas não-farmacológicas, do sistema de saúde e de proteção social, como também para o conjunto de ações que integram cada uma das mesmas”, orientam.
Nesta edição, o estudo aborda temas estratégicos em relação à Covid-19 no país - ilustrados com mapas e gráficos - como a Transmissão comunitária da Covid-19 por macrorregiões de saúde; Casos e óbitos por Covid-19, Perfil demográfico dos casos internações e óbitos por Covid-19; Covid-19 e mortalidade materna; Leitos de UTI para Covid-19; Avanço da vacinação e a distribuição de imunizantes; Perfil demográfico dos casos, internações e óbitos por Covid-19; e Leitos de UTI para Covid-19. Por fim, os painéis Um balanço das medidas adotadas no Sistema e um Conjunto de medidas recomendadas apresentam aspectos relevantes e orientações para o enfretamento da pandemia no país.
Transmissão comunitária de Covid-19 por SRAG
A transmissão comunitária de Covid-19 permanece em níveis extremamente elevados na maior parte do país. Nas últimas semanas, muitas macrorregiões apresentaram taxa de incidência extremamente alta, acima de 10 casos por 100 mil habitantes. Os pesquisadores alertam que para permitir uma redução significativa é necessário que haja uma série de esforços integrados na vigilância e na atenção, visando manter políticas de contenção da transmissão e intensificação da vacinação.
No início de 2021, a taxa de incidência tornou-se extremamente elevada em várias macrorregiões de saúde do Norte. Dentre as razões, de acordo com a análise, destaca-se o surgimento da variante Gamma de preocupação (linhagem P.1), que rapidamente se disseminou para outras regiões. Em meados de março, a maior parte das macrorregiões do país estava em níveis extremamente elevados, em uma situação de colapso do sistema de saúde.
Covid-19 e mortalidade materna
Desde o início da pandemia, a mortalidade materna tem sido monitorada no Brasil, o país com o maior número de mortes maternas devido à Covid-19. Entre mulheres grávidas e puérperas, esse indicador atinge a cifra de 7,2% − quase três vezes maior do que a atual taxa de mortalidade por Covid-19, de 2,8%. “Essa situação agrava o problema crítico de mortalidade materna que o Brasil vive há anos", destacam os especialistas.
Taxas de ocupação de leitos
As taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS apresentaram melhora sensível na maioria dos estados e no Distrito Federal entre os dias 14 e 21 de junho de 2021. É o melhor quadro desde o fim de fevereiro, embora 14 estados e o Distrito Federal ainda se mantenham na zona de alerta crítico.
Rejuvenescimento da pandemia
A investigação mostra que, ao longo das semanas epidemiológicas, os adultos jovens e a juventude em geral têm sido mais penalizados pela epidemia. Segundo a análise, trata-se de um reflexo da redução da contaminação entre os idoso por conta do efeito da vacinação. O estudo mostra um claro deslocamento de casos para as faixas etárias mais jovens ao longo do período analisado, quadro apresentado em casos de internação, sobretudo aqueles que requerem UTI, e no número de óbitos.
Fonte: Fiocruz.