Publicados na revista científica The New England Journal of Medicine, os resultados de um ensaio clínico randomizado (RCT, sigla em inglês) apontaram uma redução de 77% dos casos de dengue nas áreas que receberam o mosquito Aedes aegypti com Wolbachia, em Yogyakarta, na Indonésia. Trata-se da mesma técnica utilizada no Brasil pelo Método Wolbachia, iniciativa conduzida no país pela Fiocruz.
O estudo também revela redução de 86% das hospitalizações nas áreas tratadas com Wolbachia e a comprovação de que a eficácia do método é equivalente para todos os quatro sorotipos de dengue. “Este resultado demonstra como a Wolbachia pode ser um novo método para o controle da dengue que é seguro, sustentável e eficaz, exatamente o que a comunidade global precisa”, destaca Cameron Simmons, pesquisador da Universidade de Monash, na Austrália, e um dos coordenadores do estudo.
O ensaio foi realizado em uma área onde vivem cerca de 312 mil pessoas e que foi dividido em 24 clusters de tamanhos semelhantes, sendo que 12 delas receberam os Aedes aegypti com Wolbachia. A escolha das áreas que receberam a intervenção foi aleatória. Em todos os clusters, o trabalho de rotina de controle de dengue continuou a ser feito normalmente pelas autoridades locais de saúde.
No total, 8.144 participantes com idades entre 3 a 45 anos que se apresentaram a uma das 18 clínicas de atenção primária com quadro agudo de febre indiferenciada, com duração de 1 a 4 dias, foram investigados. Foi utilizada a metodologia de caso negativo para medir a eficácia da Wolbachia na redução da incidência de casos de dengue confirmados ao longo de um período de 27 meses.
De acordo com a pesquisadora da Universidade de Gadjah Mada, na Indonésia, e co-coordenadora do estudo, Adi Utarini, “o país tem mais de 7 milhões de casos de dengue todos os anos. O sucesso experimental permite expandir nosso trabalho por toda a cidade e nas áreas urbanas vizinhas. Nós acreditamos que há um futuro possível em que os cidadãos da Indonésia poderão viver livres da dengue”.
O ensaio Aplicando Wolbachia para Eliminar a Dengue (Applying Wolbachia to Eliminate Dengue - AWED) foi conduzido pelo World Mosquito Program da Universidade Monash, na Austrália, com seus parceiros da Indonésia Gadjah Mada University e doadores da Fundação Tahija. O objetivo era testar se a introdução de Wolbachia (wMel) na população local de mosquitos Aedes aegypti por meio da liberação de mosquitos infectados por Wolbachia reduziria a incidência de dengue confirmada entre pessoas de três a 45 anos que vivem em Yogyakarta, Indonésia.
Método Wolbachia no Brasil
No país, o método Wolbachia é conduzido pela Fiocruz, financiado pelo Ministério da Saúde, com apoio de governos locais. As ações iniciaram no Rio de Janeiro (RJ) e em Niterói (RJ), em uma área que abrange um milhão e 300 mil habitantes. Em Niterói, dados preliminares já apontam redução de até 77% dos casos de dengue e 60% de chikungunya nas áreas que receberam os Aedes aegypti com Wolbachia, quando comparado com áreas que não receberam.
Atualmente, o projeto está em expansão para Campo Grande (MS), Petrolina (PE) e Belo Horizonte (MG). Na capital mineira, está sendo realizado um estudo clínico similar ao conduzido pelo WMP na Indonésia. A cidade é a primeira das Américas a acompanhar casos de dengue, zika e chikungunya por meio de um estudo clínico randomizado controlado (RCT, em inglês), em conjunto com o Método Wolbachia.
Para a realização do RCT, foram convidadas cerca de 50 a 60 crianças por cluster, na faixa etária de 6 a 11 anos, da 1ª à 3ª série, matriculadas em escolas públicas municipais de BH selecionadas para participar do projeto. “A expectativa é que em até quatro anos, que é o tempo do estudo, seja possível conhecer o impacto do Método Wolbachia no controle das arboviroses em Belo Horizonte”, explica o pesquisador da Fiocruz e líder do método Wolbachia no Brasil, Luciano Moreira.
O RCT em Minas, chamado Projeto Evita Dengue, é liderado pela Universidade Federal de Minas Gerais, em colaboração com a Prefeitura de Belo Horizonte e as universidades norte-americanas de Emory, Yale e a Universidade da Flórida. O estudo é financiado pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID/NIH), dos Estados Unidos.
Confira mais informações sobre o método Wolbachia.
Fonte: Fiocruz.