Quatro décadas após a notificação dos primeiros casos de AIDS, novos dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) mostram que dezenas de países atingiram ou ultrapassaram as metas estipuladas na Assembleia Geral das Nações Unidas em 2016. O próximo passo seria a erradicação da comorbidade até 2030. Para tanto, a comunidade mundial de AIDS e o UNAIDS desenvolveram uma estratégia que passa pelo combate à desigualdade social.
Bons resultados
O relatório mostra que os países com leis e políticas progressistas e sistemas de saúde fortes e inclusivos têm tido os melhores resultados na resposta ao HIV. Nesses países, as pessoas que vivem com e são afetadas pelo HIV têm mais probabilidades de ter acesso a serviços de HIV eficazes, incluindo testes de HIV, profilaxia pré-exposição (PrEp), medicamento que previne o HIV, redução de danos, dispensação multi mês de medicamentos para HIV, além de acompanhamento e cuidados consistentes e de qualidade.
“Os países com elevado desempenho proporcionaram caminhos a serem seguidos por outros”, disse Winnie Byanyima, diretora executiva do UNAIDS.
“O financiamento adequado, o envolvimento genuíno da comunidade, abordagens baseadas nos direitos e multisetoriais e a utilização de evidências científicas para orientar estratégias focadas reverteram as epidemias e salvaram vidas. Estes elementos são inestimáveis para a preparação e respostas contra o HIV, COVID-19 e muitas outras doenças.”
Globalmente, o relatório mostra que o número de pessoas em tratamento mais do que triplicou desde 2010. Em 2020, 27,4 milhões dos 37,6 milhões de pessoas vivendo com o HIV estavam em tratamento, contra apenas 7,8 milhões em 2010. Estima-se que a implementação de um tratamento acessível e de qualidade tenha evitado 16,2 milhões de mortes relacionadas à AIDS desde 2001.
Mortes evitadas
As mortes diminuíram em grande parte devido à terapia antirretroviral. As mortes relacionadas à AIDS diminuíram 43% desde 2010, chegando a 690 mil em 2020. Também foram registrados progressos na redução de novas infecções por HIV, mas esse progresso tem sido mais lento—a redução foi de 30% desde 2010, com 1,5 milhões de pessoas recentemente infectadas pelo HIV em 2020, em comparação com 2,1 milhões em 2010.
Pior desempenho
O relatório destaca que os países com leis punitivas e que não adotam uma abordagem baseada em direitos relacionadas à saúde punem, ignoram, estigmatizam e deixam as populações-chave—que constituem 62% das novas infecções por HIV a nível mundial—à margem e fora do alcance dos serviços de HIV. Por exemplo, quase 70 países em todo o mundo criminalizam as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Homens gays e outros homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, pessoas trans, pessoas em privação de liberdade e pessoas que usam drogas injetáveis ficam com pouco ou nenhum acesso a serviços sociais ou de saúde, permitindo que o HIV se propague entre as pessoas mais vulneráveis da sociedade.
As mulheres jovens na África subsaariana também continuam a ser deixadas para trás. Seis em cada sete novas infecções por HIV entre adolescentes entre os 15 e 19 anos de idade na região encontram-se entre as meninas. As doenças relacionadas à AIDS continuam a ser a principal causa de morte entre as mulheres entre os 15 e 49 anos na África subsariana.
Lente de desigualdades
A COVID-19 demonstrou a fragilidade dos ganhos em saúde e desenvolvimento obtidos nas últimas décadas e expôs desigualdades gritantes. Para colocar o mundo no caminho para acabar com a AIDS até 2030, a comunidade mundial de AIDS e o UNAIDS utilizaram uma lente das desigualdades para desenvolver uma estratégia ambiciosa e viável, com novos objetivos a serem atingidos até 2025. O fim das desigualdades requer respostas ao HIV que possam atingir as populações atualmente deixadas para trás.
Se forem atingidas, as metas levarão serviços de HIV a 95% das pessoas que necessitam deles, reduzirão as infecções anuais por HIV a menos de 370 mil e as mortes relacionadas à AIDS a menos de 250 mil até 2025. Para tal, será necessário um investimento de 29 bilhões de dólares por ano até 2025. Cada 1 dólar adicional de investimento na implementação da estratégia global contra a AIDS trará um retorno de mais de 7 dólares em benefícios para a saúde.
O UNAIDS apela à Assembleia Geral das Nações Unidas que haja um comprometimento com os objetivos de uma nova declaração política sobre o HIV na quinta Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a AIDS, que acontecerá de 8 a 10 de Junho de 2021.
“O mundo não pode dar-se ao luxo de investir menos na preparação e nas respostas à pandemia”, disse Winnie Byanyima. “Encorajo vivamente a Assembleia Geral das Nações Unidas a aproveitar o momento e a comprometer-se a tomar as medidas necessárias para acabar com a AIDS.”
Fonte: ONU Brasil.