O primeiro Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz de 2021 destaca as novas possibilidades que surgem para o enfrentamento da pandemia, neste início de ano, a partir da vacinação. Ao mesmo tempo, o cenário nacional ainda é preocupante e merece muita atenção, já que nestas primeiras semanas epidemiológicas do ano nenhum estado apresentou tendência de queda de incidência ou mortalidade por Covid-19. Tem ocorrido exatamente o oposto: foram observadas elevações expressivas no número de casos em 13 deles e de óbitos em 5 e registradas elevadas taxas de incidência e mortalidade na maioria das unidades da Federação. Nas semanas epidemiológicas 01 e 02 de 2021 (3 a 16 de janeiro), o Brasil apresentou uma média diária de 52 mil casos, valor ainda mais elevado que o verificado em meados do ano passado, e de quase 970 óbitos, com 9 dos 14 dias registrando mais de 1 mil mortes por dia.
De acordo com os dados apresentados no Boletim e comentados pela equipe do Observatório, a atual situação brasileira revela o agravamento da pandemia, verificado a partir do fim de 2020. Manaus, por exemplo, passa novamente por uma fase crítica, com altas taxas de incidência em relação às Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG), incluindo os casos de Covid-19. Se em algumas capitais esse número chega a ser superior a 10 casos por 100 mil habitantes, na capital amazonense este valor chega a ser três vezes maior. Há preocupação também em relação às taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19, que em alguns estados estão na zona de alerta crítica e em outros na zona de alerta intermediária.
Entre as capitais, nove estão com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos de pelo menos 80%: Porto Velho (93,7%), Manaus (94,1%), Boa Vista (100,0%), Macapá (94,6%), Belo Horizonte (82,9%), Vitória (80,1%), Rio de Janeiro (99,8%), Curitiba (81,0%) e Campo Grande (81,0%). Com taxas superiores a 70,0%, somam-se ainda oito capitais: Rio Branco (72,7%), São Luís (77,5%), Fortaleza (78,1%) Recife (70,7%), Salvador (71,1%), Vitória (79,7%), São Paulo (70,5%) e Porto Alegre (74,1%).
O Boletim ressalta também que, apesar de a vacinação ter começado no país, a população não deve descuidar das medidas de prevenção e contenção (distanciamento físico e social, uso de máscaras, higienização, entre outros) que já vem sendo amplamente recomendadas desde o início da pandemia. A vacinação não pode, neste momento que ainda é crítico, levar a um relaxamento dessas medidas de proteção. A publicação pede ainda que os gestores passem a ter uma ação mais prospectiva, baseada em dados da vigilância em saúde, permitindo antecipar situações de crise.
A vacinação é detalhada em outro texto desta edição, em que o Boletim deixa claro que a autorização emergencial pela Anvisa para o uso das vacinas fabricadas por SinoVac e Universidade de Oxford/AstraZeneca representa um marco importante, mas ainda há desafios a serem vencidos e cuidados a serem tomados. De acordo com os pesquisadores, o país tem ainda um longo caminho a ser percorrido para reduzir a transmissão e o aumento de casos e óbitos, o que vai demandar tempo até que se alcance uma cobertura vacinal significativa com as duas doses preconizadas no mais curto período possível. Será essencial acompanhar a cobertura vacinal, possíveis efeitos adversos que venham a surgir e o efeito da vacina na incidência e mortalidade pela doença, o que exigirá um esforço de vigilância epidemiológica em cada município e a organização desses dados em um sistema nacional de informação.
Fonte: Fiorcruz.